quinta-feira, 29 de outubro de 2009




Vinicius de Moraes (Brasil)


Poemas para todas as mulheres




No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!



Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo



Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma
portas.



Ai! Teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!



Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...



Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia



Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, daime
o cântico dos cânticos



Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!


Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa
Senhora!




Rio de Janeiro, 1938

in Novos Poemas

in Antologia Poética

in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"

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