quarta-feira, 21 de abril de 2010

DÍSTICOS DIALÉTICOS




DÍSTICOS DIALÉTICOS
(OU SONETO ESPELHADO )

A poesia não precisa do homem:
As rimas, como carvão, se consomem

E o que sobra desta metamorfose
De homem em verso, e então, celulose

É só um espirro num dia chuvoso,
Que se confunde no esdrúxulo gozo

De ser também como a chuva lá fora.
Nariz de “poeta” é dáctilo: ora

Escorre - espirra, ora se cala.
A poesia não pertence a esta mala

Sem alça que é o homem, que é a caneta.
Não. A poesia não é maçaneta

De porta ou de parte alguma, de todo:
É o homem que é na água esse lodo.



Todo mundo sabe que é o eletrodo,
E não o coração, a pulsar. De modo

Contundente - sonoro, ele bate.
E só se confundem por que há quem ate

Em uma só coisa: janela e sala.
Não.Nada no mundo ao olhar se iguala.

Não existe “cheiro” sem antes faro
(Nem fogo sem antes fumaça, é claro...)

Por isso é sempre tão embaraçoso
Lançar-se em busca do “misterioso”:

Não há nada além de um vazio ileso.
Pois é...O mundo permanece preso

A nós, como epiderme no abdômen.
Da poesia? Não... não precisa o homem.





José Roberto Gonçalves



PUBLICADO

21 04 10

AS


14:06 HRS

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